Jovem morto por causa de celular em SP sonhava em servir ao Exército e ajudar a família
11/06/2025
(Foto: Reprodução) Antes de ser morto, Alex Santos, de 16 anos, tinha listado planos para ajudar mãe e amigos com primeiro salário. Corpo dele foi encontrado às margens de rio, em Pontal (SP), e quatro pessoas foram presas. Alex Gabriel dos Santos, de 16 anos, foi morto em Pontal, SP
Arquivo pessoal
Sequestrado, torturado e morto após ter encontrado um celular no interior de São Paulo, Alex Gabriel Santos, de 16 anos, tinha uma lista de sonhos, segundo a família, que foram interrompidos.
Ao g1, a mãe do adolescente, Evilene Pereira dos Santos, o descreveu como um menino que não media esforços para ajudar a família e que tinha planos para o futuro, inclusive uma lista detalhando o que iria fazer com o primeiro salário que receberia como servente de pedreiro, trabalho que ele havia começado recentemente.
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"Tinha sonhos de ter uma moto, tinha sonhos de ter um serviço registrado, tinha sonhos de terminar os estudos... esses sonhos de um menino, né? Que quando crescer quer coisas", diz a mãe.
Alex foi dado como desaparecido no dia 1º de junho, depois de dizer a familiares que havia encontrado um telefone celular. O corpo foi achado na manhã do último sábado (7), às margens do Rio Pardo, entre Pontal e o distrito de Cândia, na região de Ribeirão Preto (SP).
A Polícia Civil investiga o caso como tortura, homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Quatro homens foram presos temporariamente. São eles: Uanderson dos Santos Dias, de 19 anos, João Guilherme Moreira, de 27 anos, Alex Sander Benedito Ferreira, de 23 anos, e Jean Carlos Nadoly, de 28. As defesas deles não foram localizadas para comentar o assunto.
A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o crime tenha sido uma retaliação pelo celular que Alex encontrou, mas descarta a princípio que ele tenha sido furtado.
'Por onde passava fazia amigo'
Para Evilene, Alex estava sempre presente, a respeitava e a ajudava em tudo de que precisava. Ele era o irmão do meio, preocupado tanto com a irmã mais velha quanto com a mais nova.
"Como irmão, nossa, ele e a minha pequena pareciam duas crianças. E com a mais velha, ao mesmo tempo que estavam brigando, não ficavam nem um segundo, brigava, já estava fazendo as pazes", conta a mãe.
Um dos traços marcantes de Alex, segundo a mãe, era a capacidade de fazer amigos. "Era uma pessoa que onde passava fazia amigos, descontraído, brincalhão, amava contar piadas pra gente", relembra Evilene.
Essa característica era confirmada pelos amigos que tinha, tanto na escola onde estudava quanto na anterior. "Teve um [amigo] que esteve do meu lado o tempo todo, nas buscas, me apoiando, me consolando, tanto que no dia do velório ele passou mal", relata a mãe.
A prima, Débora Poliane Santos Ferreira, de 32 anos, reforça a imagem do menino prestativo e carinhoso.
"O Alex era um menino muito bom. Nunca teve problema com a família. Nunca deu trabalho para nós. Era um menino obediente à mãe dele. Tudo que a mãe dele falava, ele obedecia. Era um menino muito bom, assim, para todos da família, sempre que a gente pedia algum favor, alguma coisa assim para ele. Ele sempre estava disposto a fazer, sempre fazia tudo que a gente pedia".
Corpo de jovem que morreu por causa de celular é enterrado em Pontal, SP
Os sonhos e a lista de planos
Apesar da pouca idade, Alex já demonstrava proatividade, segundo a família. A mãe de Alex conta que, antes de desaparecer, o filho ligou para ela detalhando o que faria com a primeira remuneração como servente de pedreiro. Alex sonhava em ter um emprego registrado e, com ele, comprar uma moto.
"Ele ia me ajudar em casa e que ele ia comprar umas coisas para ele", recorda Evilene.
Morto em Pontal (SP), Alex Santos tinha detalhado, em lista, os planos com o primeiro salário
Arquivo pessoal
Débora reforça os planos do primo e que, além de comprar uma moto, ele tinha vontade de prestar serviço militar ou de se tornar policial.
"Ele também falava que queria ir para o Exército servir ou que queria virar polícia. Ele achava muito bonito polícia e sempre falava que tinha vontade de ser [policial] um dia se ele pudesse", revela a prima.
A prima relata um detalhe que a comoveu profundamente: "Quando eu cheguei na casa da minha tia, [depois que tudo aconteceu], algo me comoveu muito, tinha um papelzinho pregado na geladeira com os planos que ele tinha feito referentes ao salário que ele ia ganhar".
Nesse papel, Alex detalhava minuciosamente como o dinheiro do seu primeiro salário seria utilizado: ajudar a mãe com o aluguel e as despesas de casa, comprar algo para si era algumas das metas.
O bilhete ainda trazia nomes de amigos com valores ao lado, demonstrando a intenção de dividir a quantia com eles.
"Tinha futuro, tinha sonhos e isso foi arrancado dele. Isso foi tirado dele. Olha, era impressionante ver uma criança que já estava começando a firmar a mente, ter uma mentalidade já para formar, para ser um homem, um homem de bem, um homem de futuro e isso foi arrancado dele."
A lembrança que Alex deixa é a de um "menino meigo, menino alegre, menino que brincava, um menino de 16 anos brincando na areia, para mim é uma criança", nas palavras da prima. "Aquele sorriso dele. Isso a gente nunca vai tirar da memória."
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Indignação em Pontal
A dor e a indignação com o caso de Alex mobilizaram moradores de Pontal e região. Aiury Santos da Silva, dona de casa, não tem ligação familiar com o adolescente, mas comoveu-se profundamente com a história e decidiu agir.
"Quando soube do desaparecimento do Alex, mandei mensagem para a mãe dele, a Evilene, e pedi uma foto para ajudar nas buscas", relata Aiury.
A mobilização começou em um grupo de WhatsApp, que rapidamente atingiu o limite de 1.025 participantes. Diante da grande repercussão, Aiury expandiu a iniciativa para as redes sociais.
"Criei uma página no Instagram para, inicialmente, ajudar nas buscas, e agora pedimos por justiça. Já temos mais de um milhão de visualizações nessa página do Alex", conta ela.
A mobilização de Aiury foi além da busca por visibilidade. Ela conseguiu arrecadar fundos para auxiliar a família de Alex com os custos de advogados, um apoio fundamental em um momento de tanta fragilidade. "Mesmo não sendo da família, a gente se comove com a história", afirma Aiury, reforçando a indignação geral com a crueldade do crime. "Alex, com 16 anos, sofreu essas agressões, e pedimos muito por justiça para ele."
Policiais onde corpo do adolescente Alex Gabriel Santos, de 16 anos, foi achando neste sábado (7) em Pontal, SP
Werlon Cesar/EPTV
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